segunda-feira, 19 de julho de 2021

Independência da Bahia


Contexto: A Revolução do Porto que ocorreu em Portugal, no ano de 1820, foi um movimento que exigiu a promulgação de uma constituição naquele país, estabelecendo dessa forma uma monarquia constitucionalista. As cortes instaladas com essa revolução exigiram o retorno de Dom João a Portugal, o que vai acontecer em 1821; depois também exigiram o retorno de Dom Pedro, que ficou no Brasil na condição de Príncipe Regente


Haverá também um esforço dos portugueses para que o Brasil retomasse seu status de colônia, mas com a Independência em 7 de setembro de 1822 Dom Pedro se torna imperador do Brasil sob o título de Dom Pedro I. É importante ressaltar esses fatores pois eles influenciam os desdobramentos dos conflitos que ocorreram na Bahia.


O Primeiro Passo Para a Independência da Bahia 
(Antônio Parreiras, 1931) (https://pt.wikipedia.org)


Contexto de conflitos na Bahia: As insatisfações eclodiram em 3 de novembro de 1821, quando teve início o primeiro conflito entre partidários da causa do Brasil e os fiéis a Portugal. Neste dia, civis e militares armados ocuparam a atual Praça Thomé de Sousa, adentraram a Câmara Municipal, tocando o sino e conclamando o povo da cidade para exigirem a deposição da Junta Provisória. Em resposta, o brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo, comandante das tropas portuguesas na Bahia, ordenou a ocupação da praça e as ruas adjacentes ao Palácio do Governo e a Câmara para por fim à manifestação, iniciando o primeiro conflito entre brasileiros e portugueses.

Em 18 de fevereiro de 1822, a Junta Provisória reuniu-se com a Câmara e os comandantes militares na tentativa de entrar em um acordo. Propôs-se formar uma junta militar na qual participariam o brasileiro Freitas Guimarães e o português Madeira de Melo, mas este recusou a proposta. Sem acordo no campo diplomático, as tropas portuguesas de Madeira de Melo e as tropas brasileiras (compostas por militares regulares e milícias) entraram em choque.


Em 21 de fevereiro de 1822, a cidade de Salvador amanheceu sitiada pelas tropas portuguesas, o Forte de São Pedro foi ocupado e Manoel Pedro de Freitas Guimarães foi preso e enviado a Lisboa. Em 02 de março de 1822, a Câmara Municipal e a Junta Governativa, após o juramento do General Madeira de Melo, deram-lhe posse no governo da província. Estava instituída a Ditadura de Madeira de Melo. Nas semanas seguintes, os grupos mais abastados gradualmente deixaram a cidade de Salvador para se refugiarem no Recôncavo.


Em junho de 1822, a Câmara de Cachoeira, juntamente com o povo, decidiu aclamar D. Pedro como Regente e Perpétuo Defensor e Protetor do Reino do Brasil. No mesmo mês compôs-se uma Junta Interina, Conciliatória e de Defesa, que tinha como prioridade divulgar a aclamação do Príncipe Regente, bem como as hostilidades e violências perpetradas pelos portugueses contra os brasileiros.


Em julho de 1822, o Exército Pacificador, comandado pelo general francês Pedro Labatut, foi enviado do Rio de Janeiro pelo então Príncipe Regente D. Pedro. Quando assumiu as tropas, o General Pedro Labatut encontrou um exército de voluntários composto por índios, negros e mestiços escravos, livres e libertos, mesclando soldados regulares e voluntários.


Senhores de engenho, autoridades civis e militares reuniram-se no Recôncavo, com o objetivo de instaurar um Conselho Interino de Governo em contraposição a Junta Provisória de Governo da província da Bahia, submissa as decisões de Madeira de Melo. O Conselho Interino agregou baianos de diversas vilas do Recôncavo e interior, sendo responsável pela organização dos batalhões e distribuição de armas e munições às forças milicianas e de voluntários até a chegada do general francês Pedro Labatut.


Em março de 1823, as forças brasileiras na Bahia receberam reforços. O almirante inglês Lord Cochrane, à convite de José Bonifácio, assumiu o comando da Marinha do Brasil com o objetivo de expulsar os navios de guerra portugueses estacionados na Baía de Todos os Santos. 


Entre 23 e 25 de junho de 1823, tomou posse em Cachoeira, em substituição ao Conselho Interino, a Junta de Governo da Província da Bahia, nomeada por D. Pedro I em 5 de dezembro de 1822, com poder de jurisdição em nome do Imperador sob toda a Província da Bahia. Enquanto isso em Salvador, Madeira de Melo preparava a evacuação das tropas portuguesas.


Na madrugada do dia 02 de julho de 1823, as tropas de Inácio Luís Madeira de Melo deixaram a Baía de Todos os Santos. Estavam cercados por terra, pelo Exército Pacificador, e por mar pela esquadra de Lord Cochrane. No entanto, apesar do cerco, o general português recusou-se a assinar a capitulação. Na manhã daquele dia, as tropas brasileiras estacionadas em Pirajá receberam a notícia da partida das forças portuguesas. Para o então comandante do Exército Libertador, o General Lima e Silva, que esperava a capitulação de Madeira de Melo, restou apenas aceitar a fuga portuguesa e guiar as tropas patrióticas pelas ruas de Salvador.



Consequências do conflito

Contribuiu para o fim do domínio português no Brasil, em decorrência da expulsão das tropas portuguesas. Consolidação territorial e política no Brasil Império e para a formação da unidade nacional.


Personagens: 


Joana Angélica: Nasceu em Salvador em 11 de dezembro de 1761. Ingressou no Convento da Lapa aos 21 anos de idade. Os conflitos envolvendo portugueses e brasileiros no processo de independência não pouparam o referido Convento.


Martírio de Joana Angélica
https://pt.wikipedia.org/wiki/Joana_Ang%C3%A9lica#/media/Ficheiro:Joana_Angelica_martirio.jpg


Em fevereiro de 1822, quando Joana Angélica era Abadessa Sóror no Convento da Lapa, tropas lusitanas invadiram o local, pois acreditavam que lá havia oficiais brasileiros escondidos, bem como armas e munições. Joana Angélica, tentando evitar a entrada de soldados em recinto religioso feminino, pôs-se à frente das tropas. Os soldados invadiram o Convento e feriram a Abadessa, que faleceu pouco tempo depois, em 20 de fevereiro de 1822. Hoje Joana Angélica nomeia a principal avenida do bairro de Nazaré, onde se localiza o Convento da Lapa.


Maria Quitéria de Jesus: Nasceu na freguesia de São João de Itaporocas, “campos da Cachoeira”, a 27 de julho de 1798. Teria deixado a fazenda do pai ao escutar notícias dos acontecimentos de 25 de junho de 1822, na Vila de Cachoeira. Com roupa masculina, fornecida por um cunhado, apresentou-se como soldado Medeiros ao Batalhão dos Voluntários do Príncipe, chamado “dos Periquitos”, por causa da cor verde da farda.


Maria Quitéria
https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Quit%C3%A9ria#/media/Ficheiro:Domenico_Failutti_-_Maria_Quit%C3%A9ria.jpg

Por seus atos de bravura em combate, o General Pedro Labatut conferiu-lhe as honras de 1º Cadete. Maria Quitéria também participou do desfile das tropas brasileiras em Salvador em 2 de julho de 1823, sendo recebida festivamente no Largo da Soledade, onde hoje há uma estátua em sua homenagem.


Maria Felipa: Natural de Itaparica, a heroína negra foi uma liderança destacada nas lutas pela independência. Na Ilha de Itaparica, comandou dezenas de homens e mulheres, negros e índios, na queima de 42 embarcações portuguesas durante a batalha de 7 de janeiro de 1823.


Maria Felipa
https://www.geledes.org.br/quase-um-seculo-depois-moradores-incluem-nome-de-maria-felipa-entre-os-herois/



Índio Bartolomeu: Combatente de origem indígena, também conhecido como Jacaré, chefiou uma tropa de índios tapuias flecheiros oriundos de Maçarandupió, Soure e Mirandela, no Litoral Norte do Estado. Sua tropa de índios integrou a Companhia da Torre dos Garcia D’Ávila, comandada pelo Tenente Agostinho Moreira Sampaio, e juntos participaram da Batalha de Pirajá, na madrugada de 8 de novembro de 1822, quando as tropas portuguesas tentaram tomar a região de Pirajá, sendo derrotados.


João das Botas: João Francisco de Oliveira ou simplesmente João das Botas, foi Segundo Tenente da Armada Nacional e Imperial. Apesar de ter sido oficial da marinha portuguesa, aderiu à autoridade do Príncipe Regente D. Pedro quando das lutas pela independência. Lutou contra seus compatriotas, liderando populares em Cachoeira, Santo Amaro e São Francisco do Conde para armarem barcos e combaterem os portugueses, contribuindo para a formação da marinha nacional.


General Pedro Labatut: Foi contratado pelo governo de D. Pedro para chefiar as lutas contra a ocupação portuguesa na Bahia. A chegada de Labatut mudou os rumos da guerra no solo baiano. O general foi responsável pela organização do chamado Exército Pacificador, transformando os grupos armados dispersos sob comando de civis em um exército disciplinado, forte e leal ao Imperador D. Pedro. Em homenagem ao general, construiu-se um busto no bairro de Pirajá, onde autoridades depositam flores em sua honra anualmente no dia 2 de julho.


Lord Cochrane: Recebeu a alcunha de “Lobo do Mar” dada por Napoleão e “El Diablo” pelos espanhóis, hoje nomeia uma praça e uma rua na cidade de Salvador. Teve um papel marcante na Independência do Brasil na Bahia, principalmente interceptando navios lusitanos na Baía de Todos os Santos, além do efeito psicológico que exerceu sobre os adversários portugueses por sua fama.


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Independência do Brasil




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