segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Marechal Deodoro - Alagoas Colonial


A cidade histórica de Marechal Deodoro foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional(IPHAN) no ano de 2009. Precisamos lembrar que o nome da cidade é uma homenagem ao Marechal Deodoro da Fonseca, o mesmo que proclamou a República em 15 de novembro de 1889, natural deste lugar. 

Desta forma ao tratar-se do período colonial de nossa história é necessário rememorarmos sua toponímia conforme a época em referência. 

Os primeiros núcleos de povoamento se constituíram ainda no século XVI as margens da lagoa Manguaba. No lugar denominado de Taperaguá (atualmente bairro histórico do município)instalou-se a primeira povoação. Porém, o lugar se apresentou impróprio para manutenção da comunidade, desta forma foi transferida para um morro próximo formando outro núcleo de povoamento chamado de Nosso Senhora da Conceição.
Igreja Nosso Senhor do Bonfim
A povoação de Santa Maria Madalena é elevada a categoria de vila de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, uma referência a Lagoa Manguaba, em plena guerra contra os holandeses em 1636.

Mas no ano de 1633 os holandeses já haviam estado no local realizando saques e incendiando o que não poderiam levar. Neste episódio os batavos foram guiados por Domingos Fernandes Calabar.

Os holandeses dominaram o nordeste brasileiro de 1630 a 1654, quando são expulsão por meio da Insurreição Pernambucana. O território alagoano foi conquistado com a chegada do Conde Maurício de Nassau em 1637, quando veio com reforços para consolidar as conquistas, avançar sobre mais territórios e administrar os domínios holandeses. 

Com o término da guerra contra os holandeses(1654) os engenhos encontravam-se bastante danificados, mas a produção açucareira será retomada e ocorre um crescimento no número de engenhos. A partir deste momento Santa Maria Madalena passa a adquirir uma centralidade política em relação as vilas de Porto Calvo e Penedo.

Elevada a categoria de Cabeça da Comarca, no ano de 1706, passa a ter autonomia jurídica em relação a Ouvidoria de Olinda. Mas continua subordinada politicamente ao governo pernambucano. Ficou conhecida por Comarca da Alagoas do Sul.

"Até então os governadores da capitania de Pernambuco mandavam ouvidores exercer jurisdição em Alagoas, sendo o último que teve semelhante encargo João Marques Bacalhau. Depois de elevada à comarca, ficou sendo sede a vila da Madalena, além do ouvidor, corregedor e comandante militar, juízes ordinários, camaristas e capitães-mores, três cargos que também existiam em Penedo e Porto Calvo."¹

Lagoa Manguaba ao fundo

Os alagoanos solicitaram em 1797 que a Comarca tivesse seu próprio governo, ou seja, tornar-se autônoma em relação a Pernambuco. Entretanto seu pedido não foi atendido, mas percebe-se que Alagoas já detinha características políticas e econômicas para sua emancipação.

Mas sua emancipação só viria em 1817, com sua elevação a Província, como reconhecimento por não ter participado da Revolução Pernambucana e ter prestado ajudas para combater a mesma.

"A 16 de Setembro do mesmo ano[1817], o governo sancionava o desmembramento levado a efeito pelo ilustre Ferreira Batalha. Alagoas entrava para a comunhão brasileira com os foros de capitania."²

Após a Independência do Brasil(1822), a vila de Alagoas do Sul é elevada à categoria de cidade e capital da Província de Alagoas. Porém, em 1839 a capital é transferida para Maceió em decorrência da ascensão econômica advinda do Porto do Jaraguá.

Em 1939 o nome da cidade foi alterado para Marechal Deodoro em homenagem ao proclamador da República, nascido naquela cidade.


Referências:
1 - BRANDÃO, Moreno. História de Alagoas. Artes Gráficas e Thypografia: Penedo(AL), 1909. Pág. 33
2 - COSTA, Craveiro. História de Alagoas. Comp. Melhoramentos: São Paulo, 1983. Pág. 88

MELLO, Evaldo Cabral de. O Brasil Holandês(1630-1654). Penguin Classics: Rio de Janeiro, 2010.
HELENO, Sebastião. Ecos Deodorenses. 2009.

http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/109/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Marechal_Deodoro_(Alagoas)



sábado, 15 de setembro de 2018

Povoamento de Alagoas

Mapa de Gaspar Barleus - 1647

Quando os portugueses chegaram ao território brasileiro, em 1500, eram seus habitantes os índios. O estado de Alagoas não se distingue dessa característica, nessas terras estavam os temíveis Caetés e os índios Potiguares.

Nos primeiros anos a coroa portuguesa enviou algumas expedições para reconhecimento das novas terras e para proteção desse território, contra outras nações, que pertencia a Portugal em decorrência do Tratado de Tordesilhas.


A primeira tentativa de efetivar a colonização do Brasil ocorreu por meio das Capitanias Hereditários. As terras eram concedidas a particulares que tinham por objetivo tomar posse, através do povoamento, e consolidar o território português além mar.


Carta de João Teixiera Albernaz de 1640

Foi desta forma que ano de 1534 o fidalgo português Duarte Coelho recebeu a Capitania de Pernambuco.

"A capitania de Pernambuco, que o rei D. João III fez mercê a Duarte Coelho, tinha sessenta léguas na costa do Brasil. Essa testada de terras começava na foz do rio São Francisco, ao sul do cabo de Santo Agostinho, e terminava no rio Santa Cruz, que cerca a ilha de Itamaracá. Na carta de doação, de 10 de março de 1534, está mencionado que o rio São Francisco pertencerá a Pernambuco, a sua margem esquerda, como também as ilhas que estejam no limite da demarcação.
A linha divisória deveria 'entrar na mesma largura pelo sertão e terra firme adentro tanto quanto puderem entrar e for de minha conquista'. Com essa afirmação, o rei D. João III estimulava o donatário a alargar e interiorizar a conquista tanto quanto for possível."¹

Temos, portanto, que o atual estado de Alagoas foi um território que estava inserido na Capitania de Pernambuco, ou seja, no contexto ao qual se refere esse texto estamos falando de um momento em que Alagoas não detinha autonomia administrativa, o que ocorre somente em 1817.

As primeiras investidas do donatário ao sul da capitania pernambucana (Alagoas) foi uma expedição até o rio São Francisco.

"Duarte Coelho... ao descer pela costa até o rio São Francisco encontrou muitos franceses que faziam o resgate do pau-brasil; guerreou contra esses, fez acordos de paz com chefes nativos, levando de volta índios que haviam sido escravizados por tribos inimigas. Amedrontados, muitos índios fugiram e lhes deixaram as terras."²

Os franceses mantiveram constantes atividades com os índios, principalmente negociando o pau-brasil. Nas terras alagoanas alguns lugares foram utilizados como portos, onde os franceses realizavam o contrabando da madeira. Um deles tem a sua toponímia até os nossos dias, a praia do Francês na cidade de Marechal Deodoro, litoral sul alagoano, é um fragmento deste período. 

O Forte Maurício do Penedo, em carta de Johannes Vingboons, 1665. Original no Nationaal Archief, em Haia, na Holanda.

O avanço efetivo sobre Alagoas ocorrerá com os descendentes de Duarte Coelho. Seus filhos Duarte de Albuquerque e Jorge de Albuquerque iram avançar sobre o sul da capitania pernambucana devastando as tribos indígenas, escravizando-as e fazendo alianças.

As margens do rio São Francisco estabelecem um povoamento denominado de São Francisco do Penedo, que é a atual cidade de Penedo, este é portanto um dos primeiros lugares que os portugueses se estabelecem em Alagoas.


Os índios Caetés tornaram-se os principais alvos para serem exterminados após o episódio com o Bispo D. Pero Fernandes Sardinha, quando o navio que este se encontrava naufragou na costa alagoana, precisamente em Coruripe, e sua tripulação foi devorada pelos nativos, até hoje os coruripenses pagam por este episódio

Foi a justificava que os portugueses precisavam para conquistar os índios e dominar o território.

"Duarte de Albuquerque... e seu irmão Jorge de Albuquerque em 1560 realizaram a primeira entrada para a conquista dos sertões do São Francisco. A tarefa inicial realizada reforçou algumas povoações existentes e fundou à beira do São Francisco a de Penedo. Nesse primeiro empreendimento, os conquistadores encontraram uma vigorosa reação dos índios caetés; e essa ação 'colonizadora' se transformou em ação militar de dominação e quase extermínio dessa nação."³

Foi assim que os portugueses iniciaram o seu povoamento no território de Alagoas. Exterminando algumas tribos indígenas, aliando-se a outras e combatendo os franceses. Com esta finalidade estabeleceram povoações que depois se tornaram vilas e atualmente são cidades.

Como é o caso das povoações de Bom Sucesso do Porto Calvo, Santa Luzia da Lagoa do Norte, Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul( atual Marechal Deodoro) e São Francisco do Penedo.

Conheça mais um pouco dessa história em nossa aula
















Referências:
1 - FERRAZ, Maria do Socorro. A Sociedade Colonial em Pernambuco: A conquista dos sertões de dentro e de fora. IN: FRAGOSO, João Luis Ribeiro; GOUVÊA, Maria de Fátima. O Brasil Colonial: Volume 2(1580-1720). Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2014. Pág.171
2- Idem. Pág. 174
3 - Idem. Pág. 188

BRANDÃO, Moreno. História de Alagoas. Artes Gráficas e Thypografia: Penedo(AL), 1909.
COSTA, Craveiro. História das Alagoas. Comp. Melhoramentos: São Paulo, 1983.
SILVA, Gian Carlo de Melo e GOMES, Gustavo Manoel da Silva. Memória, História e Cordel em Alagoas: teorias, práticas e experiências. EDUFAL: Maceió, 2014.
SURUAGY, Divaldo. Raízes de Alagoas. Imprensa Oficial - Graciliano Ramos: Maceió, 2014.





domingo, 2 de setembro de 2018

Holandeses em Alagoas

Forte Bass (Imagem:IPHAN)
No ano de 1630 os holandeses desembarcavam suas tropas em Olinda, precisamente na praia de Pau Amarelo, com um contingente de 7 mil homens e 67 embarcações.
Apesar de sua superioridade naval em relação aos portugueses o território era desconhecido dos batavos. Até que a mudança de lado de um intrigante personagem histórico conhecedor das terras pernambucanas mudará os rumos da guerra.

Domingos Fernandes Calabar foi de fundamental importância para o avanço das forças holandesas após 1632, pois até então estavam restritos a Olinda e Recife.
Porém no ano de 1635 Calabar é capturado em sua terra natal, Porto Calvo. Lugar este que ficava ao sul da Capitania de Pernambuco (o atual Estado de Alagoas era território da mesma).

A guerra entre luso-brasileiros e flamengos prossegue indefinida até a chegada do Conde Maurício de Nassau, em 1637, para administrar o território que estavam conquistando. Com ele vieram reforços e o mesmo passa a consolidar as conquistas, como é o caso de Porto Calvo (atualmente ao norte de Alagoas) que foi um lugar em que por várias vezes ficou sob o domínio das diferentes forças. Ali mandou construir uma fortificação, o Fortim Bass, que fica na ilha dos Guedes sendo margeada pelo rio Manguaba (Imagem acima).

A existência deste forte era conhecida por meio dos mapas e algumas referências históricas, entretanto sua localização ou sobrevivência era desconhecida, até que no 2015 durante uma pesquisa arqueológica o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) localizou o mesmo.

Desde o ano de 2017 o Instituto vem realizando sua restauração.


Levy Pereira
http://lhs.unb.br/wiki_files/O_Forte_Bass_na_cartografia_e_na_iconografia_v20180314.pdf
Após a  conquista de Porto Calvo os batavos continuaram rumando para o sul em direção ao Rio São Francisco até chegarem na vila de Penedo, também em Alagoas, forçando os luso-brasileiros a se retirarem da Capitania de Pernambuco, neste momento especificamente o atual estado de Alagoas. Em Penedo o Conde Nassau irá construir outra fortificação, o Forte Maurício. Porém este foi destruído durante a Insurreição.

O Conde João Maurício de Nassau-Siegen governou o Brasil Holandês de 1637 a 1644, sendo este período considerado "uma espécie de Idade de Ouro do Brasil holandês" pois constituiu "um interregno de relativa paz entre dois períodos de guerra"¹.

"O fato é que Nassau, 'príncipe humanista' e militar de excelente currículo, 
estendeu o domínio holandês ao São Francisco, ainda em fevereiro de 1637, 
fundando o Forte Maurício nas cercanias de Penedo. Em novembro conquistou 
Sergipe del Rei; em dezembro, conquistou o Ceará, rico em sal e âmbar; e,
a nos depois em novembro de 1641, conquistaria também o Maranhão. 
Por pouco não conquistou a Bahia, com uma esquadra de 30 navios, 3.600 
soldados e mil índios tapuias."²

Em 1644 Maurício de Nassau retorna à Holanda e os seus substitutos não mantêm os mesmos parâmetros administrativos dele, causando insatisfação entre os luso-brasileiros. No ano de 1645 dá-se início a Insurreição Pernambucana, movimento de restauração do território para a coroa portuguesa.

Durante a guerra, que se estende até 1654, o território alagoano foi utilizado como fornecedor de mantimentos para as tropas luso-brasileiras bem como local de passagem das mesmas que se deslocavam a partir Bahia.

Terminada a guerra de restauração os engenhos em Alagoas se encontravam em péssimas condições deixando debilitada a sua principal fonte de rendimentos.

Conheça mais um pouco dessa história assistindo nosso vídeo:






Pontos turísticos em Porto Calvo:







Referências:
1 - MELLO, Evaldo Cabral de. O Brasil Holandês(1630-1654). Penguin  Classics: São Paulo, 2010.
2 - VAINFAS, Ronaldo. Tempo dos Flamengos: a experiência colonial holandesa. In: FRAGOSO, João Luis Ribeiro; GOUVÊA, Maria de Fátima(orgs). O Brasil Colonial, V. 2(1580-1720). Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 2014.

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